6h. Começa hoje a greve dos trabalhadores de higiene urbana em Lisboa

O olhar de José Manuel Fernandes e Helena Matos para os principais acontecimentos do dia. Programa aberto à participação dos ouvintes que quiserem dar a sua opjnião. Basta inscreverem-se pelo 910024185. Todos os dias às 10h10 na Rádio Observador.

“Refusão” da superfície lunar acrescenta “ruga” ao mistério da verdadeira idade da Lua

Muito sobre a Lua permanece envolto em mistério, incluindo a sua idade. Segundo um novo estudo, um evento de refusão “reiniciou” a idade das rochas lunares, ocultando a verdadeira idade do nosso satélite. Análises de amostras trazidas da superfície lunar indicam que a nossa companheira celeste pode ter cerca de 4,35 mil milhões de anos, o que significa que surgiu cerca de 200 milhões de anos após a formação do nosso Sistema Solar. Mas este imenso desfasamento não agrada a alguns cientistas. Durante os primeiros tempos do Sistema Solar, os detritos e os corpos planetários colidiram e coalesceram para formar

Trabalhadores do lixo de Lisboa em greve até 2025

Os trabalhadores da higiene urbana no município de Lisboa vão estar, a partir desta quarta-feira e até 2 de janeiro, em greve ao trabalho extraordinário, a que se junta uma greve geral de dois dias, na quinta e sexta-feira.

Convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML) e pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local (STAL), a greve na área da higiene urbana, entre o Natal e o Ano Novo, vai contar com serviços mínimos, decretados para quinta-feira, sexta-feira e sábado (de 26 a 28 de dezembro).

O colégio arbitral da Direção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP) decretou como serviços mínimos a realização de 71 circuitos diários de recolha de lixo, envolvendo 167 trabalhadores, entre cantoneiros e condutores de máquinas pesadas e veículos especiais, o que, segundo o STML, representa “cerca de 1/3 do trabalho” que se realiza num dia normal.

Discordando da decisão do colégio arbitral da DGAEP, por considerarem que “são serviços mínimos máximos” e representam “uma limitação ao direito à greve”, o STML e o STAL apresentaram, na segunda-feira, uma contestação junto dos tribunais, com uma reclamação e uma providência cautelar para “anular” ou “minimizar” os serviços mínimos decretados.

A greve geral dos trabalhadores da higiene urbana em Lisboa foi convocada para 26 e 27 de dezembro (quinta-feira e sexta-feira), a que se junta uma greve ao trabalho extraordinário, entre 25 e 31 de dezembro, e uma paralisação no dia de Ano Novo, prevista apenas no período noturno, ao trabalho normal e suplementar, entre as 22h00 de dia 1 e as 06h00 de dia 2 de janeiro.

Os sindicatos justificam a realização da greve com a ausência de respostas do executivo municipal, liderado por Carlos Moedas (PSD), aos problemas que afetam o setor da higiene urbana, em particular o cumprimento do acordo celebrado em 2023, que prevê, por exemplo, obras e intervenções nas instalações.

No âmbito dos problemas na higiene urbana em Lisboa, 45,2% das viaturas essenciais à remoção encontram-se inoperacionais, 22,6% da força de trabalho está diminuída fisicamente ou de baixa por acidentes de trabalho e existe um défice de 208 trabalhadores, segundo o STML.

Ainda de acordo com o STML, “todos as semanas, inúmeros circuitos ficam por fazer”.

A Câmara de Lisboa assegurou que o acordo celebrado em 2023 está a ser cumprido e tentou negociar com os sindicatos para que a greve fosse desconvocada, tendo mesmo apelado ao apoio dos 24 presidentes de junta de freguesia, mas sem sucesso.

Apesar de terem sido decretados serviços mínimos, os sindicatos perspetivaram “uma grande adesão” à greve, segundo disse à Lusa o presidente do STML, Nuno Almeida.

Para minimizar os efeitos da greve, a Câmara de Lisboa decidiu implementar um conjunto de medidas (https://www.lisboa.pt/deposicao-de-residuos), nomeadamente criar uma equipa de gestão de crise, disponível 24 horas; distribuir contentores de obra, em várias zonas da cidade, para deposição de lixo; pedir aos cidadãos que não coloquem o lixo na rua, sobretudo papel e cartão; apelar aos grandes produtores que façam a sua recolha durante estes dias; e colaboração com municípios vizinhos, com possibilidade de utilização de eco-ilhas móveis.

Há também conselhos gerais da Câmara de Lisboa para os dias de greve, como minimizar a produção de resíduos; se possível, manter o lixo em casa até que a recolha seja retomada; não colocar o lixo no chão ou à volta dos contentores e ecopontos; e acondicionar bem o cartão, permitindo mais espaço dentro do contentor.

4h. Martim Moniz. Rui Rocha critica “politização da polícia”

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Donald Trump escolhe novo embaixador dos EUA para Portugal

Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, escolhe John Arrigo, empresário do ramo da venda de automóveis, como novo embaixador norte-americano em Portugal.

“É uma grande honra para mim anunciar que John Arrigo será o próximo Embaixador dos Estados Unidos em Portugal”, afirmou Trump através da sua rede social Truth Social”.

O presidente eleito em novembro deste ano destacou o novo embaixador em Portugal como “um empresário de grande sucesso na indústria automóvel”. “Há mais de trinta anos que é um incrível líder empresarial em West Palm Beach [cidade no estado da Flórida]”, acrescentou o republicano.

Arrigo é um antigo associado de Donald Trump, segundo uma reportagem do Business Insider em 2021.

3h. Marinha. Jorge Nobre de Sousa substitui Gouveia e Melo

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“Continua a não haver lugar para o ‘Senhor’ nas hospedarias de muitos decisores políticos”

O Patriarca de Lisboa, D. Rui Valério, voltou a apelar à paz, na tradicional Missa do Galo. Perante os fiéis que se reuniram na Sé de Lisboa, na madrugada deste dia de Natal, D. Rui Valério lembrou que tal como “Jesus precisou, com Maria e José de bater à porta da hospedaria para ser rejeitado”, também atualmente subsistem conflitos no mundo, referindo-se às “hospedarias” de alguns governantes que rejeitam tréguas.

“Também hoje o ‘Senhor’ volta a bater à porta de tantos cenários de guerra e de violência e convida a acolhê-l’O, Ele que é o Príncipe da Paz. Infelizmente, continua a não haver lugar para ele nas hospedarias de muitos decisores políticos”, referiu na homilia.

O Patriarca lembrou, em concreto, os cenários de guerra no Médio Oriente ou na Ucrânia.

“A paz continua a ser o sinal do amor de Deus e daqueles pobres que abrem o seu coração ao amor, por isso abramos o coração à solidariedade com os irmãos da Ucrânia, do Médio Oriente e de tantos lugares e experiências de vida onde há guerra e invoquemos ao Senhor da Paz, a Paz para o mundo, para cada nação, para o coração da humanidade”, afirmou.

Na homilia da missa da noite de Natal, o responsável do Patriarcado de Lisboa disse que “o único contexto que que conta é o do amor e da comunhão”, através e gestos reais e ações concretas em coerência com o Evangelho.

“O mundo não se converte, nem tão pouco se mobilizará para Cristo, nem compreenderá a palavra do Evangelho se não se sentir envolvido pela luz que os cristãos têm de irradiar”, enfatizou.

Manuel Teixeira Gomes: uma arte de negociar, uma arte de viver

No longo muro do tempo onde a história se grafita, aquele duro adeus desenhou-se com um orgulho que não desconhecia nem desprezava a melancolia. Há um século, no dia 12 de dezembro de 1925, o Presidente da República, Manuel Teixeira Gomes, deixava o Palácio de Belém e, após cinco dias passados apressadamente na sua casa da Gibalta, partia, a bordo do navio cargueiro Zeus, para um exílio sem remorso, sem recuo e sem regresso.

Começava então, mais uma vez, uma nova vida para este homem de 65 anos, cuja existência foi cadenciada por períodos muito diferentes, mas que aproveitaram, sem nenhuma concessão à distração ou ao desperdício, a sabedoria e a experiência uns dos outros.

Teixeira Gomes nunca se perdeu de vista no mundo, nem nunca perdeu o mundo de vista em si. Fez de cada um dos seus dias e de cada um dos seus passos um avanço para conquistar uma liberdade interior e exterior, alcançada perante si-mesmo e perante os outros, que o levou à escrita criadora, à contemplação da beleza, à acção enérgica e empenhada. Isto é, à literatura, às artes, à diplomacia, à política.

Este requintado esteta, refinado dândi e sofisticado sensualista (como no seu tempo se dizia) era dotado de uma sensibilidade desperta para tudo o que valesse a pena. Fez ele da vitalidade física uma condição da energia mental e do prazer de todos os sentidos uma experimentação laboratorial, fundamento da sua mais valiosa experiência humana. Novelista, contista, cronista, memorialista, dramaturgo, coleccionador, viajante, embaixador (na época, dizia-se ministro), Presidente da República, de tudo isso se tem escrito e falado com abundância.

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Mas, antes disso tudo, foi, durante largo tempo, um negociante activo e próspero. O fruto que obteve do seu auspicioso negócio de frutos concedeu-lhe sucessivas e excelentes possibilidades para afirmação dessa liberdade pessoal que, nele, se juntava a uma atitude cívica e a um ideal republicano de dar aos outros as mesmas oportunidades que foi capaz de criar para si.

Do seu afortunado ofício de empresário, negociante e negociador, pouco se tem dito e, por isso, pouco se conhece. É desse tempo inicial e iniciático da vida do futuro escritor, aquele em que ganhou muito dinheiro, e o soube astutamente fazer render, que trata Gonçalo Couceiro, no seu livro, publicado recentemente, a que deu o título, ao mesmo tempo descritivo e inscritivo, de “Manuel Teixeira Gomes / A Arte de Negociar”.

Afirma o autor na Introdução, definindo o alcance do seu propósito: “Convictos de que foi a sua condição de homem de negócios  que lhe permitiu uma vida “romanesca”, livre e criadora, procurámos saber mais sobre quem foi o comerciante e o exportador, actividade que o ocupa durante algumas décadas e que talvez por preconceito tem ficado um pouco por esmiuçar, considerada porventura pouco relevante em vista da espantosa produção literária ou do desempenho notável que teve na vida pública. Entendemos, no entanto, necessário e útil dar a conhecer mais sobre esta actividade, que foi afinal a base de sustentação da sua vida – os negócios. (…) Pela primeira vez, encontrámos documentos que bem atestam o modo de agir de um empresário moderno, muito atento à prevenção de riscos e à montagem de operações comerciais e logísticas, em terra ou no mar, que envolviam a sua actividade”.

A partir de uma investigação persistente, cuidada e arguta, que descobriu no seu caminho informações inéditas e encontrou documentos desconhecidos, é assim feita uma história minuciosa dos anos em que este algarvio prometido à glória soube, com uma viva inteligência prática, um senso agudo de organização e uma visão precursora, continuar, aumentar, consolidar e internacionalizar o negócio de frutos secos herdado do pai, obtendo os lucros que lhe permitiram a audaciosa interpretação ad libitum da partitura da vida livre que cultivava e o uso reiterado e rebelde da independência de que, com uma elegante insolência, quis sempre fazer demonstração e alarde.

Frequentando com mão diurna e nocturna, como citava, de Horácio, o velho Camilo Castelo Branco, papéis extensos e dispositivos digitais, recorrendo arduamente a arquivos não explorados para este fim, como o da Companhia de Seguros Fidelidade, de que Teixeira Gomes foi agente em Portimão, obteve aquilo que um investigador mais deseja: dados novos, factos ignorados, indicações precisas, pormenores integrados, hipóteses confirmadas, argumentos firmes   e, sobretudo, um fio que conduz a história e lhe concede uma solidez que torna a narrativa coesa e coerente, consistente e consequente.

Com um currículo dedicado ao estudo da história de arte (é autor de uma tese académica, tornada depois livro,  sobre a Igreja de  São Paulo de Macau) e à defesa e preservação do património cultural (foi director do IGESPAR e da Direcção Regional de Cultura no Algarve), nesta obra recorre à sua comprovada perícia de investigador, ligando  o conhecimento da importância do património pessoal de Teixeira Gomes como garante da  segurança material da sua longa e dispendiosa vida ao reconhecimento da relevância da sua actividade comercial como património da região do Algarve e da economia local. Isso mesmo é notado por Helena Garrido, jornalista  da área da economia, no elucidativo Prefácio que escreveu para esta edição.

Ao longo de quatro informados e documentados capítulos, vamos conhecendo a acção modernizadora que Teixeira Gomes induz no negócio recebido do pai, o seu esforço incansável, a sua imaginação comercial, que juntava a prudência e o arrojo, o seu talento para fazer relações, estabelecer laços e gerar confiança, o poder da sua ambição e a capacidade activa de a realizar.

Assistimos, em paralelo, ao nascimento, crescimento, auge e declínio do um negócio, o de frutos secos, que mudou a geografia física e humana do Algarve, o seu peso na economia nacional, a vida e os costumes dos seus habitantes e as relações da região com as outras regiões de Portugal, com a Europa e com o Mundo.

Página a página deste livro, vemos o seu protagonista actuar no palco cada vez mais amplo dos seus negócios, com sede em Portimão e escritório em Antuérpia, aperfeiçoando a sua arte de dar e receber, manter e conceder, forçar e reforçar, ligar e desligar, calcular e obter, prometer e persuadir.  A essa arte de troca podemos, usando uma antiga e sempre nova palavra, chamar-lhe uma arte de negociar. O verbo “negociar” lembra-nos o que, desde o latim, sabemos: que negócio significa o contrário de ócio.   Em Manuel Teixeira Gomes, era isso mesmo que significava. Para ele, negócio queria dizer labor, labuta, talento, tacto, destreza, perspicácia, lucidez.  Mas era o negócio que lhe permitia o ócio! E, assim, a sua arte de negociar se mostrou inseparável da sua arte de viver.

Nesta obra, vemos que, ao desenvolver, valorizar, apurar e potenciar, incessantemente, a sua arte de negociar, com interlocutores nacionais e estrangeiros, tão diferentes e tão exigentes como as circunstâncias, as situações e os reptos em que agia, o futuro Presidente da República ficou na posse de uma notável aptidão que usou com eficácia nas épocas futuras da sua vida e em outros domínios da sua acção, privada e pública, como coleccionador, diplomara, político.

Além do mais, este “empresário de sucesso” (como diríamos hoje) praticava essa arte de negociar com um rigor deontológico e com um escrúpulo ético, esses, sim, verdadeiramente inegociáveis, que podiam fazer dele, embora este antigo seminarista se confessasse um “agnóstico nato”, um exímio exemplo dos comportamentos que o grande sociólogo alemão Max Weber considerava configurarem “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”.

Foi essa arte de negociar que lhe foi fundamental nos tempos adversos em que se tornou, logo no ano seguinte ao da proclamação da República, embaixador de Portugal junto da Corte de Sua Majestade Inglesa, em Londres, onde se encontravam exilados o soberano português deposto, o rei D. Manuel II, e os altos dignitários monárquicos destituídos das suas funções ou assustados com a mudança de regime.

Na capital do Império Britânico, teve de enfrentar uma permanente e agressiva conspiração contra ele, a que fez face com êxito, graças a uma habilidade diplomática e a uma distinção pessoal, conseguindo assim seduzir e convencer os seus adversários mais desconfiados e hostis, a começar pelo rei Jorge V.

Foi o reconhecimento desses seus méritos e talentos de negociador que levou à sua escolha, num momento muito perigoso, para Presidente da República. Este grande viajante usou todos os seus recursos de hábil e competente praticante da arte de negociar para tentar inverter o declínio e a marcha para o abismo a que o regime republicano  era levado pela falta de clarividência e de vontade positiva dos seus chefes políticos, desastrosamente ocupados em intrigas galopantes, lutas pelos pequenos e grandes poderes, hostilidades e rivalidades pérfidas e constantes, filiações em facções irreconciliáveis, erros de percepção na avaliação do sentimento popular, instabilidade governativa crónica, gerando  incapacidade administrativa e impossibilidade de corresponder aos anseios e expectativas das pessoas e das populações, substituição do idealismo inicial por um vulgar realismo sem grandeza e sem horizonte.

Foi o falhanço (o maior falhanço da sua vida de negociador!) nesta sua missão de conseguir, através de uma negociação esforçada que rapidamente se tornou frustrante, um compromisso capaz de unir os melhores republicanos para salvar a República, a que se juntou uma aviltante campanha de ataques, de insinuações, de calúnias e de difamação pessoal, que levou o autor de “ Agosto Azul” à demissão (ele disse enfaticamente: libertação)  do cargo de Presidente da República, descrevendo, com acintosa eloquência,  o tempo em que o exerceu como um triste tempo de “ cativeiro”.

A imagem que, de Manuel Teixeira Gomes, nos dá este livro tão singular como a gente sobre a qual ele um dia escreveu, com um estranho e imaginativo dom de observação, é, ao mesmo tempo, igual e diferente da que dele já tínhamos. Igual, porque não põe em causa nenhum dos grandes traços que desenhavam o seu retrato. Diferente, porque dá a esses traços um outro vigor, uma outra cor, uma outra perspectiva e um outro acabamento.

Obra de método e de minúcia, mas também de engenho e de novidade, que se lê com interesse (mesmo nas suas passagens mais densas) e aproveitamento, “Manuel Teixeira Gomes / A Arte de Negociar”, é, de ora em diante, uma fonte indispensável e preciosa para quem procure conhecer a vida do notável escritor e do desiludido político. Ou para quem dele intente fazer uma nova biografia.

Talvez, por tudo isto, haja, nesta obra, aquele tom indisfarçável de indiscreta satisfação pelo trabalho realizado, ao mesmo tempo que há um subtil gesto de inconclusão e um ágil movimento de abertura ao futuro.

Esse movimento de abertura ao futuro vai ao encontro de quem queira prosseguir o que aqui foi investigado e revelado, tendo-o feito Gonçalo Couceiro como quem cumpre um dever, obtém uma garantia, ou responde a uma pergunta. A irresistível, intrigada e curiosa autora dessa pergunta é, como acontece nos melhores casos, a sua própria resposta.

José Manuel dos Santos

Este Natal Pedro Nuno pediu um “defund the Police”

Chegou o Natal! É tempo de amar, é tempo de perdoar, é tempo de avistar inúmeros objectos voadores misteriosos ao longo da costa portuguesa. De Sagres a Cascais, dezenas de bolas de luz movimentam-se nos céus, visíveis a olho nu, com comportamentos que não foram até agora explicados. Se estivéssemos a falar de bolas que se movimentam na Luz e nos levam aos céus com comportamentos explicados pela perspectiva de mais um título, seria óbvio que nos referíamos à vitória do Benfica que garantiu o Natal na liderança do campeonato. Não sendo esse o caso, é de facto um mistério.

Aliás, mistério deste calibre só mesmo, na semana passada, o da rusga no bairro do Martim Moniz, em Lisboa. O quê? Uma rusga no Martim Moniz?! Mas como é tal possível?, indignou-se, em peso (que esta malta abomina o fat shaming), a esquerda e a direita com disfunções de lateralidade. “Nunca tal coisa se viu!”, garantiram as Anas Gomes habituais, sem ofensa para as Anas Gomes que não são, de facto, a Ana Gomes. Realmente, nunca tal se viu, a não ser dezenas de vezes nas últimas duas décadas. A coisa é tão comum, mas tão escandalosamente comum, que provocou um fenómeno ainda mais raro do que as misteriosas bolas de luz nos céus: a SIC a desmontar uma narrativa esquerdista.

É verdade. O canal que já foi de Carnaxide, depois passou a ser de Paço de Arcos e que agora, à luz desta bizarria, questiono-me se não se terá mudado para o Entroncamento, expôs de forma clara o comportamento obscuro do Presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior. O socialista Miguel Coelho, que andava até há quinze dias a implorar uma intervenção da polícia no calamitoso Martim Moniz, descobriu agora que, afinal, calamitosas são as intervenções policiais que visam pôr cobro à calamidade por ele previamente denunciada. Apesar de tudo, e felizmente para Miguel Coelho, só a SIC andou a vasculhar, que se calha a polícia ter feito também uma rusga ao seu carácter, na esperança de apanhar vestígios de dignidade, tinham vindo de mãos a abanar.

Pela minha parte, acho que a rusga ao Martim Moniz não foi, de todo, em vão. Para já, houve o espectáculo de luz e cor. Em época natalícia, quem fica indiferente às sirenes azuis e vermelhas da polícia a fazerem pendant com as iluminações das ruas, típicas da quadra? E depois há uma questão mais profunda. Numa cidade já conhecida pelas revistas do Parque Mayer, é sinal de pujança cultural este protagonismo que já merecem as revistas do Martim Moniz.

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E o protagonista maior desta revista em Santa Maria Maior foi Pedro Nuno Santos. O líder socialista garantiu que este é o “governo mais extremista” das últimas décadas da democracia portuguesa. Só não estou certo que assim seja porque me parece que esta declaração torna impossível garantir que Pedro Nuno Santos conheça o sentido das palavras “governo”, “mais” e/ou “extremista”.

Certo é que, dada a ordem pelo chefe, 21 “personalidades” acusaram o governo de seguir uma receita já testada noutros países, “com resultados desastrosos de mais desigualdade, mais exclusão social, mais violência.” Sem dúvida. Esta receita de tentar fazer cumprir a lei só traz amargos de boca. E principalmente mais violência. Suponho que estas “personalidades” defendam, antes, o modelo alemão de borrifar em todos os avisos e permitir a permanência no país de indivíduos que acabam por passar a ferro multidões em mercados de Natal. De uma coisa não há dúvida: o modelo germânico evita a carnificina de algumas dezenas de indivíduos, de mãos na parede, durante um bocado.

Para acabar numa nota mais natalícia, salientemos o seguinte. O Martim Moniz mantém a sua relevância histórica, continuando a ser, hoje como há bons séculos, sinónimo de portas da cidade sempre abertas para todos os que queiram entrar.

Amigos, amigos, greves à parte

Encontra-se profundamente enraizada na sociedade portuguesa, a par de uma série de outras atribuições injustas, a ideia de que os sindicatos convocam sistematicamente greves antes do fim-de-semana. Ora quero, por isso, começar este meu artigo por demonstrar a minha total solidariedade e compreensão com todos os que, com espírito de sacrifício, e alguma inveja dos que não o fazem, convocam antes greve às quintas-feiras. Ainda que apenas nas quintas-feiras que antecedem um feriado à sexta. Deve, de facto, ser uma chatice para estes profissionais dedicados e rotinados não terem a possibilidade de, como habitual, convocar greve à sexta-feira. Em vez de se limitarem a substituir o mês na ata da assembleia de trabalhadores da semana anterior, são ainda levados ao incómodo labor de substituir o dia da semana na já gasta folha que o sindicato imprime todas as sextas-feiras na última semana do mês.

Quero, em segundo lugar, demonstrar alguma empatia com aqueles que fazem parte de um projeto-piloto no nosso país para experimentar a semana de quatro dias ou, como se ouve na gíria, o fim de semana prolongado – os sindicalistas da greve à sexta-feira. De facto, não é qualquer um que está à frente do seu tempo. Ter a coragem para ir em contramão e, enquanto todos os outros trabalham cinco dias, ousar trabalhar apenas quatro é, no mínimo, louvável. No máximo, imitável. Agradeço, portanto, a disponibilidade destes trabalhadores para, aos ombros dos gigantes do nosso mundo, partirem em busca do desconhecido.

Existe, ainda, uma outra circunstância associada aos sindicatos que é conotada negativamente, e que sinto a necessidade de mencionar. A sensação de que há demasiados sindicatos, alguns dos quais até com mais dirigentes do que associados. Não pretendo fazer juízos que concluam se 16 sindicatos da PSP (2018) ou 12 dos professores são demasiados. Creio que não existindo nenhuma métrica seria injusto fazer qualquer afirmação apenas com estes números. No entanto, há duas coisas das quais não tenho a menor dúvida, e das quais os sindicatos também aparentam não ter. Por um lado, que duas cabeças pensam melhor que uma e que, por isso, quantos mais sindicatos para a mesma classe profissional, melhor. A única exceção a esta regra é mesmo o xadrez. Por outro lado, que quanto maior o número de dirigentes maior o empenho do sindicato, mesmo que isto implique mais dirigentes que associados – um pormenor como é evidente.

Como não quero que as más-línguas digam que apenas elogiei e defendi os nossos sindicalistas, quero de igual modo aproveitar este espaço para protagonizar algumas soluções que visam resolver desigualdades há muito instaladas na nossa sociedade. Desde logo, como não creio que caiba na cabeça de alguém que, por alguém ter sido crucificado há mais de dois mil anos, haja hoje quem não possa convocar greve na Sexta-feira Santa, sugiro ao nosso governo o seguinte: a promulgação com efeitos imediatos de uma lei que adie todos os feriados às sextas-feiras para as terças-feiras. Não faz sentido ambos coincidirem e, considerando que há mais greves do que feriados à sexta, presumo que seja mais fácil adiar estes últimos.

Não poderia deixar de concluir este artigo sem, num tom mais sério, abordar o cerne da questão sindicalista. De facto, por responsabilidade de uma minoria, o papel essencial que os sindicatos devem desempenhar em democracia encontra-se, pior do que menosprezado, descredibilizado. As constantes greves às sextas-feiras, o elevado número de sindicatos para a mesma classe profissionais e os sindicatos que têm mais dirigentes que associados contribuem para uma perceção generalizada de que, na realidade, os objetivos dos sindicatos são outros que não a defesa dos trabalhadores. Acredito, porém, que a solução é mais fácil do que possa parecer. É uma simples questão de bom senso, para que a minoria não desvirtue a essencial maioria.

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