A falência da confiança no Estado: o caso do Fundo Ambiental
A confiança no Estado é um dos pilares fundamentais para o funcionamento de qualquer sociedade moderna. Quando o Estado e o Governo falham repetidamente no cumprimento dos seus compromissos, o tecido social é corroído, gerando descrédito, desconfiança e, acima de tudo, uma sensação de abandono dos cidadãos pelas instituições.
O caso da falta de pagamento do Fundo Ambiental em Portugal é mais um exemplo flagrante de como o Estado falha nos seus deveres fundamentais, comprometendo não só a execução de políticas públicas, como também a própria legitimidade das suas instituições.
O Fundo Ambiental, criado em Portugal como instrumento de apoio à transição energética, proteção ambiental e combate às alterações climáticas, deveria ser uma peça-chave no financiamento de projetos que contribuem para a sustentabilidade e o cumprimento das metas ambientais internacionais. Alimentado principalmente por receitas provenientes de taxas ambientais, como a fiscalidade sobre combustíveis e emissões de carbono, o fundo é, na prática, financiado pelos próprios cidadãos e empresas. É gerido pela Secretaria-geral do Ministério do Ambiente e Acção Climática.
Este mecanismo, se funcionasse adequadamente, deveria garantir que os recursos arrecadados fossem reinvestidos em benefício da sociedade, seja na promoção de energias renováveis, na melhoria da eficiência energética ou na recuperação de ecossistemas. Para o português comum, que teve de avançar com o capital e espera o reembolso, serve para combater a pobreza energética aplicando janelas, painéis solares, recuperadores de calor, e por aí fora.
No entanto, em 2023, Portugal prometeu pagamentos que deveriam ter sido realizados no início de 2024. Estamos agora em 2025, e os beneficiários continuam sem receber um único cêntimo.
A inércia e a incapacidade do Estado português em honrar os seus compromissos como o Fundo Ambiental são um reflexo de uma governação disfuncional que mina os princípios mais básicos de uma nação bem-sucedida. O problema é o Estado e a sua organização visto que parece pouco interessar se a cor política é PS ou PSD.
Portugal, neste caso, parece estar a trilhar o caminho da falência das instituições, a raiz do colapso de uma sociedade. Quando um governo não consegue cumprir um compromisso tão básico como transferir fundos já arrecadados e prometidos, o que impede que falhe em questões mais críticas?
Não, esta falha não é meramente administrativa; ela reflete a degradação da relação de confiança entre Estado e sociedade. Entre o Estado e as pessoas. E quando a confiança é quebrada, a legitimidade também o é.
O atraso de mais de um ano no pagamento do Fundo Ambiental gera, a meu ver, um impacto grave e abrangente:
1. Prejuízo aos beneficiários: Os projetos ambientais que dependem destes recursos ficam paralisados, comprometendo o progresso em áreas cruciais como a transição energética e a mitigação das mudanças climáticas. Empresas e cidadãos que investiram tempo e dinheiro com base numa promessa estatal são fortemente penalizados.
2. Erosão da confiança: Como podem hoje os cidadãos acreditar na palavra do Estado quando as suas ações desmentem as suas intenções? A confiança é construída com base na previsibilidade e na credibilidade, ambas destruídas neste caso.
3. Riscos macroeconómicos e reputacionais: Portugal apresenta-se como um país comprometido com os objetivos ambientais globais, mas internamente falha na execução das suas políticas. Este comportamento pode afetar o acesso a fundos europeus e manchar a reputação do país.
A incapacidade de cumprir prazos de pagamento é mais do que uma questão burocrática; é uma demonstração de incompetência e de um profundo desrespeito pelas pessoas.
Os governantes que prometem, mas não cumprem, traem o contrato social e perpetuam um ciclo de desconfiança e apatia que paralisa a sociedade. Pior ainda, o atraso contínuo sem explicações claras ou planos de correção reforça a sensação de que o Estado português está cada vez mais afastado dos cidadãos.
Para evitar que Portugal caia na armadilha das nações falhadas, é imperativo que o governo tome medidas urgentes para restaurar a confiança no Fundo Ambiental e, por extensão, no próprio Estado. O pagamento imediato dos valores devidos é o primeiro passo, mas não pode ser o único.
É fundamental reduzir o tamanho do Estado para melhorar a sua eficiência. Criar mecanismos de fiscalização independentes para garantir a transparência na gestão dos fundos públicos; Estabelecer prazos vinculativos com penalizações em caso de incumprimento por parte do Estado; Reforçar a comunicação com os cidadãos, apresentando relatórios claros e atualizados sobre a utilização dos fundos.
Portugal tem a oportunidade de reverter esta tendência de falhas sistémicas, mas isso exigirá vontade política, competência administrativa e um compromisso real com os princípios de confiança e responsabilidade. Aquilo a que se chama uma reforma.
Sem estas mudanças, o Fundo Ambiental será apenas mais um símbolo de promessas vazias, e o Estado continuará a afastar-se do seu papel como pilar de estabilidade. A confiança no Estado é um bem precioso. Perdê-la, como estamos a testemunhar, terá um preço demasiado alto a pagar.