Carta Aberta ao Mundo do Futebol Português
Aproximamo-nos de um momento decisivo nas eleições para os órgãos sociais das duas instituições que gerem o desporto que mais amamos. Este é um convite à reflexão sobre o estado do nosso futebol, focando essa reflexão, não apenas nas conquistas, mas também nas inúmeras oportunidades de crescimento e melhoria para a vida dos adeptos e amantes da modalidade.
Nos últimos anos, o futebol português apresentou um crescimento acentuado, com conquistas e com campanhas internacionais muito interessantes, mas ainda sobram desafios que precisamos superar para nos colocarmos ao lado das grandes ligas mundiais. Somos um país pequeno, é verdade, com limitações financeiras e sociais, mas, acima de tudo, somos um povo apaixonado pelo desporto-rei.
É hora de redirecionar o foco. Embora a discussão sobre os milhões que envolvem o negócio do futebol seja frequente, e por vezes necessária, o verdadeiro motor das instituições, tanto da FPF quanto da Liga Portugal, deve ser os nossos adeptos, os sócios, o espetáculo em si e, claro, os grandes artistas que encantam os relvados.
Como é possível, em 2025, ainda termos jogos a horários que afastam as famílias dos estádios? Não podemos continuar a usar as operadoras televisivas como escudo para críticas. Se os nossos estádios estiverem cheios, com bancadas repletas de cachecóis e camisolas, será que as operadoras não vão querer registar a euforia desses momentos? Faz sentido ter jogos às 20h45, quando poderíamos realizá-los às 14h ou 15h, como nas melhores ligas europeias? Será que alguém deixaria de assistir a um jogo da Liga Portugal apenas porque este começa às 14h, em vez das 20h30?
É urgente que o futebol retorne a horários que respeitem a vida familiar dos adeptos. As crianças querem ir ao estádio, as famílias desejam viver a magia do futebol enquanto exploram as belezas de Portugal. Queremos estádios cheios, queremos poder ver o nosso clube por todos os estádios deste país.
E o problema vai além dos horários. A venda de bilhetes para certos jogos e competições é inaceitável: opaca, cheia de incertezas, provoca desconfiança e deixa os adeptos em segundo plano. Este é um problema que os clubes devem resolver, mas é responsabilidade da FPF e da Liga Portugal regular, gerir e fiscalizar a venda de bilhetes de forma transparente. É imprescindível acabar com a desconfiança em relação aos bilhetes “dados” a claques, parceiros e amigos. Que haja seriedade! É hora de exigir que cada clube informe a quantidade de bilhetes distribuídos, vendidos e os retidos para convites. Que haja transparência!
Reconheço que implementar essas mudanças pode ser desafiante e incomodar certos “poderes” no futebol. No entanto, as instituições que cuidam do nosso futebol precisam de ter coragem para se posicionar sobre o futuro do futebol em Portugal.
O futebol deve ser um verdadeiro espetáculo! Temos talento – jogadores incríveis, treinadores competentes, infraestrutura de qualidade. Mas chegou o momento de FPF e Liga Portugal assumirem plenamente o seu papel, colocando o prisma do adepto em primeiro lugar e não apenas o prisma financeiro. Valorizar os adeptos e não só as contas cheias.
Existem muitas questões que poderíamos discutir nesta carta, como a necessidade de um lobby junto dos nossos deputados para revogar a proibição da venda de bebidas alcoólicas nos estádios durante jogos profissionais ou a reflexão sobre a própria estrutura da Liga Portugal que deverá deixar de estar no controlo dos clubes para ser uma verdadeira instituição independente, autónoma e que proteja os interesses de todos os intervenientes do futebol português – basta seguir o exemplo da Premier League.
O que desejo, com esta carta, é que os candidatos aos órgãos sociais da Federação Portuguesa de Futebol e da Liga Portugal deixem os seus pedestais e vejam a realidade através dos olhos de um adepto, de um apaixonado pelo futebol. É hora de implementar as mudanças urgentes que precisam de ser feitas para que o nosso futebol cresça. Para que os estádios fiquem cheios, para que, ao final das contas, o negócio do futebol prospere, beneficiando adeptos, sócios, clubes, a Liga Portugal, a FPF e, em última análise, todo o nosso querido Portugal.
Chegou a hora de agir! De sermos melhores! De privilegiar a festa, o espetáculo, as bancadas cheias, a transparência, as pessoas. Precisamos que os candidatos pensem e se posicionem firmemente para que todos possamos continuar a vibrar e a celebrar nos estádios.
Com paixão pelo futebol,
Um amante do desporto